De repente, as imagens ficam confusas apenas por levantarmos a cabeça para olhar.
É tudo muito rápido.
Não é para menos: estamos em movimento e o chão se torna incrivelmente invisível nessa hora.
Percebemos que é uma descida onde estamos pela velocidade que não conseguimos controlar.
Parece que perdemos o freio de tudo.
As coisas mais importantes e nossas escapam da mão e vão embora.
Agarramos desesperados às bordas.
As mãos arranham o chão, como se unhássemos o próprio coração.
A angústia de ser carregado pelo tempo e como olhar de dentro dos olhos, como se eles fossem uma janela e não estivessem mais em nós.
Uma prisão sem grades nos empurra ladeira abaixo como um troféu que não vale mais.
Ninguém percebe, só nós.
A agonia maior é essa solidão.
Nesse momento crucial, não resta outra coisa senão nossos sonhos.
A esperança vem deles.
A fé vem deles.
Então nos resignamos: vamos até onde Deus permitir, mas achamos sempre que a hora de partir está errada.
E é isso que muda tudo.
A nossa esperança se enrosca pelo caminho e a nossa fé se agarra às margens.
Os nossos sonhos resistem.
Tudo aquilo desaparece no mesmo instante em que abrimos os olhos para o novo dia.
Estamos aqui com uma nova oportunidade.
A vida dá a nós todos uma chance, mas nem todos entendemos.
Muitos de nós se perdem na confusão.
Muitos de nós deixam os sonhos de lado.